Discurso de favela e promessas monumentais: o pleito de 2020 e as prĂ¡ticas de 1500

Imagem: reproduĂ§Ă£o do site do jornal A Plateia

Por Raulino JĂºnior ||OpiniĂ£o de Segunda|| 

EleiĂ§Ă£o que Ă© eleiĂ§Ă£o tem que ter enganaĂ§Ă£o. Isso poderia ser um slogan, mas nĂ£o Ă©. É sĂ³ uma percepĂ§Ă£o mesmo. No prĂ³ximo dia 15 de novembro, mais de 147 milhões de brasileiros vĂ£o escolher prefeitos e vereadores, em 5.569 municĂ­pios, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para isso acontecer de forma responsĂ¡vel, Ă© preciso ficar bem atento a vĂ¡rias questões, inclusive ao marketing polĂ­tico de cada candidato. Gente que nunca foi favela estĂ¡ usando tal discurso para se eleger. VocĂª nĂ£o vai cair nessa, nĂ£o Ă©? Estamos em 2020 e nĂ£o podemos mais aceitar prĂ¡ticas eleitoreiras de 1500.

Pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE), a favela, ou para ser mais fiel ao termo que Ă© utilizado pelo Ă³rgĂ£o desde 2010, o aglomerado subnormal "Ă© uma forma de ocupaĂ§Ă£o irregular de terrenos de propriedade alheia - pĂºblicos ou privados - para fins de habitaĂ§Ă£o em Ă¡reas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrĂ£o urbanĂ­stico irregular, carĂªncia de serviços pĂºblicos essenciais e localizaĂ§Ă£o em Ă¡reas com restriĂ§Ă£o Ă  ocupaĂ§Ă£o". Dizer que Ă© favela Ă© bem diferente de ser favela. Se o candidato nĂ£o vive essa realidade, nĂ£o pode dizer que Ă© favela, porque nĂ£o Ă©. O uso adjetivado do termo, jĂ¡ incorporado pela linguĂ­stica, Ă© passarela de oportunismo em perĂ­odo de eleiĂ§Ă£o. Muita gente desfila, busca os flashes e quer associaĂ§Ă£o com o lugar que carece de polĂ­ticas pĂºblicas adequadas. AlĂ©m disso, a visĂ£o retratada pelo marketing polĂ­tico Ă© sempre estereotipada, como se todo favela fosse igual. E nĂ£o Ă©. 

Coisa que polĂ­tico entende Ă© de fazer promessas. As desse ano, sĂ£o mais monumentais ainda. Por exemplo: como alguĂ©m vai gerar 50 mil empregos em pleno perĂ­odo de recessĂ£o da economia, que, ao que parece, vai se estender? Essa Ă© uma promessa descabida, que nĂ£o precisa ser cientista polĂ­tico ou economista para concluir o quanto serĂ¡ difĂ­cil colocĂ¡-la em prĂ¡tica nos prĂ³ximos quatro anos. NĂ£o por maldade, mas por falta de condições mesmo. Isso tem que ser avaliado criticamente pelos eleitores. Afinal de contas, nĂ£o dĂ¡ para acreditar em quem promete o mar e nĂ£o tem nem Ă¡gua para isso. É sempre muita promessa e pouca proposta.

Nos debates, o que se vĂª Ă© a polĂ­tica infinita do ataque. Todos os candidatos seguindo a mesma gramĂ¡tica. É bem primĂ¡ria a forma como a polĂ­tica partidĂ¡ria se configurou no Brasil. Tem sempre os mesmos tipos: o candidato ridĂ­culo, o que apela para o emocional, o que se apega aos clichĂªs, o engomadinho, robĂ³tico e leitor de "teleprompter". Para piorar, nĂ£o superam a argumentaĂ§Ă£o de quem estĂ¡ brigando pela bola. DifĂ­cil...

Para que isso mude, Ă© necessĂ¡rio ter uma sociedade mais instruĂ­da, que saiba os seus direitos e deveres. Lima Barreto afirmou: "O Brasil nĂ£o tem povo, tem pĂºblico". Quando isso, de fato, vai deixar de ser uma verdade? É preciso ler, investigar, comparar e cobrar. Caso contrĂ¡rio, os discursos falsos vĂ£o se perpetuar e a polĂ­tica do Brasil vai continuar sendo a do "vou fazer" sem nunca ter feito.

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