O crÃtico é um artista
frustrado? Daniel Piza
(1970-2011) achava
que não. De acordo com ele, Marcel Proust, Henry James e Bernard Shaw foram
grandes criadores e grandes crÃticos. Sendo assim, tal tese não se sustenta. Em
seu livro Jornalismo Cultural, da Editora Contexto, o jornalista traça um
histórico sobre essa vertente jornalÃstica, relata experiências próprias e dá
dicas àqueles que pretendem se enveredar pela editoria de cultura. Autor de 17
livros, entre eles uma biografia de Machado de Assis (Machado de Assis – Um Gênio Brasileiro), Piza trabalhou em
importantes veÃculos da imprensa nacional, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e a extinta Gazeta Mercantil. Em
dezembro de 2011, faleceu em Minas Gerais, vÃtima de um acidente vascular
cerebral (AVC).
O primeiro capÃtulo, Pontos luminosos, é, praticamente, uma
aula de história sobre os caminhos do jornalismo cultural. O destaque fica na
parte em que Daniel fala sobre a prática no Brasil. Ele afirma que a figura do
crÃtico profissional é uma tradição em solo brasileiro e exemplifica citando Lima
Barreto, que escreveu As recordações do escrivão IsaÃas Caminha para criticar o cotidiano
dos profissionais de jornalismo. Mário de Andrade, Drummond, Machado de Assis e
Carlos Heitor Cony também são lembrados pelo autor de Jornalismo Cultural.
A tônica do segundo capÃtulo, De polos e tribos, é a dicotomia entre
elitismo e populismo. Para alertar o leitor e desmistificar qualquer
preconceito, Daniel Piza aconselha: “Qualquer
forma de qualificação prévia, assim, é complicada. A cabeça tem de estar aberta
ao que se dispõe a assimilar, venha de onde vier. Ao mesmo tempo, pode e deve
confiar na experiência; quanto mais se adquire ‘olho’, como se diz na pintura,
maior é a capacidade de pré-selecionar o que se irá consumir. A filtragem é
mais simples justamente porque os critérios estão mais nÃtidos, e não o
contrário”, p. 50. Ou seja, quem trabalha na editoria de cultura não deve
deixar o gosto pessoal sobrepor o que acontece na realidade. A cabeça deve
estar aberta.
No terceiro capÃtulo, Contraclichê, Piza fala sobre alguns gêneros
jornalÃsticos, como perfis e entrevistas, dá dicas para o “jornalista cultural”
(é o termo que o autor usa) escrever reportagens, aborda os preconceitos que o
profissional que trabalha na editoria de cultura sofre (a suposição de que
trabalha menos e de que não gosta de notÃcia, porque muitos profissionais fazem
o “jornalismo de agenda” (divulgação de shows, espetáculos teatrais, exposições
e etc.) e da ilusão da doce vida). O fato de o jornalista confundir afinidades
pessoais com avaliações estéticas e atacar a pessoa em vez da obra é visto por
Piza como “pecado” de quem atua na área de cultura. O autor não deixa de falar
da prática do jabá e esclarece: “Não
existe (nem deveria existir) uma regra que impeça que crÃticos e criticados
sejam amigos, para além de seus contatos profissionais. Mas é bom, caso
aconteça essa amizade, que se deixe claro, para ambos os lados, de que há esses
dois nÃveis de relacionamento – e, se o desentendimento profissional perturbar
o pessoal, azar da amizade”, p. 91-92.
O quarto e último capÃtulo da
obra, Aqueles foram os dias, é o
momento em que Piza relata algumas experiências próprias, dando ênfase ao trabalho
realizado à frente do caderno Fim de
Semana, da Gazeta Mercantil. Em seguida, apresenta uma bibliografia
comentada e decreta: “O jornalista
cultural tem um dever nº 1 consigo próprio: não ter preguiça de ler”. O livro
de Daniel é um bom começo e uma boa introdução sobre o assunto.
Fonte: PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. 4. ed. São Paulo:
Contexto, 2011. (Coleção Comunicação), 143p.
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