#VOCÊ VIU?
O objetivo da seção “Você viu?” é
analisar produtos que já fizeram parte (e ainda fazem, né?) do movimentado
mercado cultural do Brasil; sem discriminações, mas com alguns preconceitos.
Afinal, somos preconceituosos por natureza. Fique à vontade!
ARNALDO ANTUNES REÚNE EM DVD TODO O SEU LEGADO
O DVD Arnaldo Antunes Ao Vivo no Estúdio
(Brasil, 2007, gravadora Biscoito Fino) mostra toda a versatilidade de Arnaldo
Antunes, um artista modernista por natureza e muito preocupado com a qualidade
de seus trabalhos. O registro foi produzido pelo próprio Arnaldo, em parceria com
Betão Aguiar, Chico Salem e Marcelo Jeneci. Quem assinou a direção de vídeo foi
Tadeu Jungle e a gravação foi realizada no tradicional Estúdio Mosh, em São
Paulo. Arnaldo estava, portanto, cercado por um elenco que, assim como ele, tem
uma vasta experiência no cenário musical do Brasil. Isso, certamente, foi um dos
motivos para que a obra saísse tão bem acabada.
Arnaldo Antunes Ao Vivo no Estúdio é
o primeiro DVD oficial da carreira de Arnaldo (antes, o cantor lançou o do “projeto”
Tribalistas (2002) e teve o VHS de seu primeiro trabalho solo (Nome, de 1993) transformado em
DVD pela Sony/BMG (2006)). As músicas apresentadas no audiovisual foram,
predominantemente, compostas por Arnaldo Antunes com alguns parceiros e dão a
dimensão de toda a sua subjetividade. O DVD tem 24 faixas e conta com participações
especiais de Nando Reis, Edgard Scandurra, Branco Mello e Tribalistas (leia-se
Carlinhos Brown e Marisa Monte que, com Arnaldo, formaram o trio em 2002). Nos
extras, três faixas bônus, galeria de fotos e um clipe multitake da música Hotel
Fraternité.
Arnaldo trouxe um clima de
sarau para a gravação do DVD. As intervenções poéticas realizadas durante o espetáculo
comprovam isso. O modo peculiar de cantar, meio que falando, contribui para que
o poeta e o cantor se confundam no palco. Uma das maiores evidências disso se dá
na interpretação de O Silêncio, em que Arnaldo dá uma longa pausa no meio da música
(de propósito) e quebra o silêncio com a declamação de Desafinado, de
Tom Jobim; logo após, retoma a canção original. Para corresponder ao viés
modernista de Arnaldo, pode-se afirmar, usando um neologismo, que ele “declanta”
(declama e canta) suas músicas e essas “declantações” fazem parte da identidade
do artista Arnaldo Antunes e o torna singular entre os intérpretes brasileiros.
O DVD traz canções emblemáticas
da carreira do ex-Titãs, como a melancólica Socorro e Saiba, que foi gravada por
Adriana Calcanhoto no CD Adriana Partimpim, lançado em 2004 e voltado para o
universo infantil. Falando em criança, Arnaldo faz uma releitura interessante de
Acabou Chorare, sucesso dos Novos Baianos. A regravação de Qualquer Coisa, de
Caetano Veloso, foi uma boa sacada e transborda de lirismo. Num
determinado momento da música, Arnaldo insiste em repetir o verso “Sem essa
aranha”. Por quê? Vai saber! Coisas do Arnaldo.
O show do DVD é apresentado de
forma bem intimista. Tanto é que os convidados saem de uma diminuta plateia, o
que reforça ainda mais essa atmosfera de proximidade desejada pelo artista.
Dentre as participações especiais, a de Nando Reis é a mais primorosa. A música
Não vou me adaptar relembra os bons tempos dos Titãs e mostra a felicidade dos
dois amigos em dividirem os vocais. Por outro lado, o dueto de Arnaldo e Edgard
Scandurra em Judiaria parece o primeiro ensaio de adolescentes numa banda
de garagem e lembra muito as caras e bocas de Júnior Lima e seus companheiros
da fracassada Nove Mil Anjos, para quem fazer rock’n’roll é demonstrar cara de
mau. A presença de Branco Mello é insossa, embora a canção Eu não sou da sua
rua, composta por ele e por Arnaldo, tenha uma boa mensagem. Já os Tribalistas só
pecam por não mostrar nenhuma novidade nas músicas apresentadas. Os arranjos
de Um a um e Velha Infância são os mesmos do CD lançado em 2002. A impressão
que dá é a de que Arnaldo os convidou apenas para constar. Mas, como a intenção
do artista era fazer uma síntese de sua trajetória musical, é compreensível
o convite aos seus colegas de tribo.
O DVD Arnaldo Antunes Ao Vivo no
Estúdio apresenta um inventivo Arnaldo Antunes, sempre disposto a se
reinventar. A começar pelo próprio nome da obra, que parece guardar uma contradição:
é “ao vivo” e “no estúdio”. Até as esquisitices do artista, que volta e meia
pula no palco como se estivesse brincando amarelinha, são válidas porque servem
para quebrar o ar sisudo de Antunes e emprestam humor às canções. Não dá para
negar que Arnaldo fez uma boa autossíntese no registro audiovisual.
# Se você viu, deixe a sua opinião sobre o produto cultural.
2 Comentários
Ola meu querido Raulino Junior gostaria de dizer que sinto saudades de você.E pessoas como você eu faço questão de numca esquecer pelo visto continua gentil e modesto esta é uma de suas grandes virtudes bjs day
ResponderExcluirObrigado, Dayane. Abração para você!
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